Junto com o primeiro dia de aula, vem também muitas expectativas, medos e anseios, pois sabemos que o início dessa jornada requer muito acolhimento, paciência e, claro, afeto.
Quando se trata de crianças que vão ter a sua primeira experiência na escola, isso tudo parece ser ainda mais desafiador. O período de adaptação abriga um processo delicado no qual a criança se desvincula do convívio em tempo integral com a família e passa a ser inserida em uma nova rotina, cercada também por pessoas desconhecidas para ela. Esse momento é essencial para um desenvolvimento saudável, permitindo a individualização, a autonomia, a segurança e a independência da criança, possibilitando que ela crie vínculo e se identifique com esse novo espaço que é a escola.
Essa mudança causa instabilidade tanto nas crianças quanto nos pais, que são peça fundamental para uma transição leve, que trará mais segurança e confiança para os pequenos.
Com a psicóloga Irene Torres, entramos nesse universo peculiar da adaptação escolar, explorando estratégias, desafios e conquistas desse período tão marcante na vida das crianças e de suas famílias.
- Quais estratégias a escola utiliza para criar um ambiente acolhedor e seguro, facilitando a adaptação das crianças ao maternal?
Para as crianças já veteranas, (que passaram do Minimaternal para o Maternal I) realizamos um tour para que reconheçam os ambientes e as professoras, proporcionando familiaridade. Além disso, envolvemos as famílias nesse processo, com a recepção feita pelas professoras antigas no primeiro dia de aula. Para os novos alunos, a escola lança mão de algumas estratégias que são combinadas com as famílias em reuniões pedagógicas, promovendo um ambiente calmo e acolhedor, grande favorecedor da adaptação.
- Qual conselho você daria às famílias para contribuírem no processo de adaptação das crianças?
Recomendamos que a adaptação comece em casa, envolvendo as crianças na decisão pela escola. Mostrem o ambiente de forma antecipada para os filhos, conversem com eles sobre a escolinha, explicando que eles vão ficar um tempinho fora de casa todos os dias. É um processo de preparação mental e emocional das crianças.
Manter a rotina sem grandes mudanças nos meses que antecedem a entrada na escola é essencial (horário de sono, retirada de chupeta, desmame, desfralde). Além disso, construir uma relação de confiança com os educadores e estar atento ao que os profissionais observam são passos fundamentais.
Outra dica importante é que os pais estejam seguros no ambiente que vão deixar os filhos e construam uma relação de confiança com os educadores; só assim transmitirão essa segurança para os filhos.
É fundamental, ainda, ter um ouvido atento ao que as professoras, orientadoras e psicólogas irão dizer, pois os profissionais conseguem observar alguns aspectos que podem não ser percebidos pelos pais, que estão emocionalmente muito envolvidos. O controle da ansiedade deve também ser ponto de atenção. Quando a criança se volta com um olhar de hesitação, é essencial que o responsável consiga passar segurança.
- Como a escola estabelece os horários e a logística durante a adaptação?
Para os alunos que estão entrando na escola, nesses primeiros dias adotamos a estratégia de reduzir a carga horária. O tempo que a criança fica sem a família precisa ser paulatino, temos um período de no máximo 2 horas. Dividimos os grupos em horários diferentes para acolher e permitir que as professoras estabeleçam vínculos. Para os veteranos, procuramos manter o horário habitual. Focamos em uma adaptação humanizada, buscando abordagens individuais quando necessário.
- Quais são os principais desafios emocionais enfrentados pelas crianças durante o período de adaptação?
Inicialmente, as crianças enfrentam medos naturais do desconhecido. No entanto, o desafio pode aumentar em casos de pais com grande dependência emocional. Nesses casos, pedimos que outro acompanhante esteja presente, para proporcionar a segurança necessária sem apego excessivo.
- Como identificar sinais de estresse e desconforto nos alunos e quais medidas tomar?
Utilizamos a observação, analisando expressões e olhares. Antecipamos comportamentos diferentes, chamando os pais para evitar desconfortos. Analisamos históricos e informações das famílias para identificar sinais de estresse e desconforto, agindo proativamente.
- Quais são os indicadores de uma adaptação bem-sucedida do ponto de vista emocional e social?
Uma adaptação bem-sucedida gera segurança. Uma criança segura é um adulto seguro. Costumamos dizer que crianças e adultos maduros vieram de processos de adaptação maduros e respeitosos. Ficamos atentos a sinais claros de que a criança está se sentindo acolhida, mesmo quando a criança não expressa isso verbalmente. Toda adaptação atenciosa nos ensina que o mundo é adaptativo.
- Qual é o diferencial do Espaço Educar nesse processo?
Na Espaço Educar, não somos apenas um instrumento na adaptação; acolher faz parte da nossa essência. Somos humanos e personalizamos esse processo, sabemos que cada criança tem o seu próprio universo, por isso, nunca escondemos nada dos pais, fazemos disso um processo de troca com as famílias. Valorizamos a individualidade de cada criança e mantemos uma comunicação transparente com as famílias.